sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Le Coq Sportif

Fazer desporto é bom.
É saudável, divertido por regra, e apenas raras vezes acaba em noites de febre e vómito ensanguentado (é normal não é, ou serei eu que estou cronicamente doente?).
Nascido e criado em Aldoar, desde menino que pratico desporto, por lazer ou necessidade. Nesta terra de gente rude e avessa à lei, cedo às crianças são inculcados os princípios básicos do atletismo, desta feita dissimulados em regras de sobrevivência. “Que deves fazer se vires um cigano na rua?”, perguntam-nos pouco após abandonarmos o berço. “Deves correr desalmadamente e trepar a árvore mais próxima.”, exemplificam-nos prontamente.
Continuam: “Se vires um preto deves largar a carteira, correr, saltar muros, e assim que longe deves rezar aquela oração que te ensinaram na catequese.”, diz-nos o padre, enquanto nos coloca a mão dentro das calças (é normal não é, ou fui eu que fui continuamente molestado pelo meu pároco?).
Os anos voam, passamos a puberdade, atingimos a maturidade, e descobrimos que o nosso tio e padre além de pedófilos eram racistas. Então abandonamos as nossas mais profundas crenças, esquecemos as lições de atletismo, e não tarda engordamos. Quando em festa ou descontraída reunião culpamos a cerveja pelos sete novos quilos, enquanto risonhamente pedimos ao empregado mais doze finos.
Face tão funesta realidade o Estado não teve mãos a medir: desceu o IVA sobre o consumo relacionado com a prática desportiva, fomenta a mesma através de campanhas publicitárias mal conseguidas, e faz-nos correr pondo-nos o fisco à perna.
Num gesto de solidariedade social e de forma a saldar a minha divida para com a sociedade, decidi fazer o mesmo e pôr todos a correr. Agora sou testemunha de Jeová, e cigano nos tempos livres.