sábado, 25 de abril de 2009

Comercial

Chamaram-me de comercial e vendido. E eu gostei. É o que sempre quis ser.
Desde o primeiro post neste blog que anseio pelo dia em que me pagariam para me ler.
Desde o primeiro post que anseio pelo dia em que à pergunta “O que é para ti uma tangerina?”, altas raparigas loiras e de seios volumosos responderiam “É um blog muito engraçado (e comercial). Ah, espera, acho que também há uma fruta com esse nome…”.
Desde o primeiro post que sonho ter fotógrafos e jornalistas à porta de casa gritando “Vá Guilherme, vem à janela”, e quando eu aparecesse todos gritariam “Isso, agora sorri. Isso, muito bem. Exacto, faz amor com a câmara…”.
Desde o primeiro post que sonho com o dia em que, descida a minha rua, as mulheres quase tão vendidas quanto eu me pagariam 20€ para passar dez minutos comigo.
Desde o meu primeiro post que almejo o dia em que na Assembleia da República, gordos deputados trocariam enfadonhos “você sofre de sério autismo, doutor” por algo do género de “as medidas deste governo parecem saídas da Tangerina, senhor Primeiro-Ministro”.
Já agora, desde o meu primeiro post que espero pelo dia em que o Primeiro-Ministro me processaria judicialmente, intitulando-me de “cavaleiro negro à frente da ainda mais negra campanha contra ele”.

E agora estou feliz. Parece que estou no bom caminho.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Um homem que dispensa apresentações

Entrou no colossal edifício, seguiu para o elevador e dirigiu-se à penthouse.
Lá em cima sacou o revólver, acercou-se da porta, escutou o interior, e de seguida deitou-a abaixo com um pontapé. Já dentro, encontrou um indivíduo sentado numa grande poltrona, gordo e soberbo, fumando um charuto.
- Gosto de ser sincero. Vim para te matar.
- Não podes faze-lo – respondeu o gordo, assustado e agora ofegante de tão surpreso – Por acaso sabes quem eu sou? Eu sou o…
- Desculpa-me, mas dispenso apresentações.

BANG (ou PUM, a doutrina diverge)

sexta-feira, 3 de abril de 2009

A penosa história de Lassie Garrett

Lassie Garrett nasceu no Inverno de 1935.
Sugerir que Lassie Garrett foi o fruto de uma relação amorosa entre a célebre cadela e o escritor Almeida Garrett seria apenas estúpido e insultuoso. Lassie Garrett é na verdade o fruto de relação amorosa entre a célebre cadela Lassie e Camilo Castelo Branco*, que decidiu assim nomear seu rebento em honra da obra e génio do virtuoso mestre seu contemporâneo.
Desde cedo Lassie Garrett se destacou dos restantes. Possuía uma visão nocturna fora do normal, uma audição nocturna também bastante aceitável, e uma capacidade de salto em altura nocturno bastante jeitosinha também. Também as suas capacidades intelectuais cedo desbotaram, e logo o mundo nelas notou. Cursou História na Universidade de Trancoso, sua terra-natal, e nesta mais tarde leccionou.
Em 1961, com 26 anos e já com o doutoramento em Saladas Frias concluído, é convidado a juntar-se à administração Kennedy na Casa Branca, tornando-se rapidamente num dos mais poderosos conselheiros e confidentes do jovem presidente norte-americano.
Feroz defensor da verdade politica, em 1963 decide abandonar a administração Kennedy após ouvir o presidente mentir perante uma multidão de entusiastas seguidores em Berlim. Aí, o presidente proferira a célebre frase “Ich bin ein berliner”, o que Lassie Garrett sabia bem ser mentira, visto Kennedy ter nascido em Chelas, no seio de uma família de emigrantes cabo-verdianos.
De volta a Portugal, junta-se à causa revolucionária, tornando-se célebre pelos seus reaccionários graffitis, em que se podia ler “Rua com Salazar!”, “Alguém sabe que horas são?” e “O melhor café é o da Brasileira”, entre outras mensagens, algumas delas de alto teor erótico. Em 1971 é aprisionado pela DGS, acabando vítima de longos questionários e torturas, onde lhe chegaram a dar cachaços. Parte para a Argélia.
A 26 de Abril de 1974 recebe um telegrama de seu amigo Manuel Tiago, em que este lhe dá as boas novas da Pátria-Mãe. Rejubilante, fecha o envelope sem grande cuidado, acabando por desferir um fatal corte de papel no dedo indicativo. Lassie Garrett vem a sucumbir três horas mais tarde, esvaído em sangue.

*não, não estou a par do conceito de dessincronismo temporal.