sábado, 6 de março de 2010

Um senhor que queria ser mais meu amigo do que aquilo que eu desejava

Apesar da postura aristocrática, alguma indumentária em veludo, e uma pública predilecção por galicismos, eu ando de autocarro. E, como todo o sensato utilizador dos transportes públicos, eu tenho medo de quem lá possa encontrar.
São já às dezenas as situações em que uma simples viagem entre a rua do Bonjardim e a praça Carlos Alberto quase me levaram à morte, ou a acabar cativo numa fábrica de sabonetes na China profunda.

Foi há dias que no autocarro conheci um senhor que queria ser mais meu amigo do que aquilo que eu desejava. Parecia ter 50 e poucos anos, tinha olhos grandes que não piscavam, e um nariz enorme e aguçado, daqueles capazes de vazar olhos em festas com muita gente.
Quero ser teu amigo”, disse ele, descontraidamente. Depois de anos a usar esta mesma deixa para engatar miúdas, comecei a sentir-me algo estúpido e um violador (mas o que lá vai lá vai).
Um estranho “alto” deformava-lhe as calças, e quis acreditar que ele tinha no bolso um pacote de Mentos, mas bem lá no fundo sabia que podia acabar de novo ensanguentado e nu no porto de Leixões.
Por sorte recordei-me das úteis lições do Professor Marcello Caetano, famoso escapista nos seus tempos livres. “Quando deparado com um perigoso inimputável /violador/comunista/ninja assassino, deve o indivíduo tentar suplantar a excentricidade deste, trocando os olhos, babando-se, recitando longas passagens do Senhor dos Anéis, ou dizendo-se boavisteiro”. Arrisquei.

E foi assim que, depois de uma longa discussão sobre futebol e os efeitos na economia portuguesa da queda em descrédito das artes tauromáquicas, me vi livre do senhor que queria ser mais meu amigo do que aquilo que eu desejava.

10 comentários:

Ary disse...

Quinze minutos depois tens o primeiro comentário. Será suficiente para voltares a escrever?

Muitos parabéns.

Guilherme Silva disse...

é sim.
Vou-me aplicar agora. Já tenho saudades das anónimas.

Anónimo disse...

Guilherme acho fascinante o seu amor pelo perigo. Se fosse comigo eu já teria morrido de medo a muito tempo e nunca mais andaria no onibus. Você é mesmo corajoso. Inda bem que voltou a escrever **

Anónimo disse...

Ex mt sexxy. Adorx a maneira kmo excrevex :$ Beixinhoxx

Guilherme Silva disse...

Já não tenho saudades de novo.

. disse...

satanás.

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

nope.

D. disse...

Já pensaste em levar um rouge de badalhoca? É capaz de afastar os senhores narigudos de 50 anos e com sorte ainda atrais jovens robustos de 20 e tal :) Mas agora já percebo porque é que não apareces nas aulas, devem ser os dias em que não dominas o medo de ser abordado no autocarro.

Anónimo disse...

GUIa-me

Pedro Brito disse...

Eu é que já tinha saudades do teu blog, e da para ver que não tenho vindo cá, só em 2011 descobri os teus últimos posts de 2010 ;)

Mas devias investir um pouco nisto do que em montagem de chineses :)