segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Dr. Strangelove

Quem me conhece sabe que não sou nenhum love expert.
As minhas capacidades de aconselhamento amoroso são quase nulas: repetem-se sugestões como “Vê o Closer e compra a Playboy que isso passa.”, ou simplesmente “Sabes, conheço um gajo que vende cianeto…
Paralelamente, não sou nenhum Deus do flirt. Confio o meu pescoço e toilette à colónia barata, e em baladas românticas como toques de telemóvel. Para mais, desde que puseram guardas à porta das primárias, a coisa tem vindo a piorar...
Como já referi, Jesus não gosta especialmente da minha pessoa. Não me chegassem já os referidos handicaps, presenteou-me também com uma quase total incapacidade de “ler os sinais” do sexo oposto. Episódios frequentes envolvem respostas como “Sabes que gostas!” a singelos perguntar de horas por parte de velhinhas octogenárias, e “Não obrigado. Já é tarde e deves tar cansada...” a convites para visitar apartamentos de loiras madrugada dentro.
De facto, este meu ultimo handicap tem vindo a generalizar-se. Ultimamente, quando em frente ao espelho, tendo a não conseguir perceber quais as verdadeiras intenções do individuo que deslindo.
Acho que tenho medo…

domingo, 28 de outubro de 2007

Arrumações

Arrumar o quarto é detestável, agonizante e perigoso. No meio de roupa, livros, algemas e Barbies, há sempre aqueles pequenos objectos pontiagudos que nos cortam os dedos quando não estamos a olhar. Pior que arrumar um quarto, apenas arrumar dois quartos ao som das “piadas” do Nilton.
Mas arrumar o quarto pode também trazer-nos óptimas reminiscências. Foi o que me aconteceu esta tarde. Ao fim de cinco minutos de arrumação, a minha enfadonha cara de tédio transformara-se já, espelhando agora grande alegria e regozijo. O meu quarto, eterno monte de entulho encarnado, revelara-se um perfeito álbum de recordações. Qual ADN, qual biografia ou álbum de fotografias, o meu quarto contava a minha vida como nada e ninguém.
Num canto a minha primeira action figure do Dragon Ball, noutro o meu primeiro Diablo. Numa estante a minha medalha de 27º lugar no corta-mato da escola, ao lado do meu primeiro dente de leite, que por sua vez está encostado ao meu primeiro dedo "de leite”, nome que lhe dei para atenuar a sua perda. Perto, na parede, o buraco por onde um dia pensei a minha fuga. Na cama a almofada que guardo desde bebé, no meu guarda-roupa a minha primeira namorada…
Incrível. Eu revia-me no meu quarto.
O meu quarto é-me.
Eu sou o meu quarto…

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Sub-90

09:23.
Esperava pelo autocarro que me levaria para outras bandas e o dia até que nem me corria mal: tomara um bom pequeno-almoço, e no caminho para a paragem não me cruzara com nenhum javali.
Sozinho, deixei-me levar pela preguiça e fechei os olhos por mais um pouco. Foi quando senti alguém acercar-se de mim e ao meu lado sentar-se. Era um velhinho.
Frágil, lento e amável sorriu para mim. Lembrei-me que desde pequeno os meus pais me aconselhavam a não cumprimentar velhinhos, pois eles eram “manhosos, traiçoeiros e velhinhos”, mas num rasgo de simpatia soltei um “bom dia”.
Visivelmente regozijando, o velhinho todo ele sorriu.
Bom dia! Tá frio hoje, não?”, perguntou-me animado. Respondi-lhe afirmativamente, e num rasgo de sabedoria popular acrescentei “E parece que vem aí trovoada. Uma pessoa já não consegue perceber o tempo. Tá tudo trocado, e a culpa é do Bush, aquele bandido…”.
Acabara de assinar a minha sentença e nem sequer me apercebera. Inocentemente desencadeara uma conversa que agora sei não queria ter. Da política à columbofilia, do futebol ás técnicas de captação de aguás subterrâneas, divagamos um pouco sobre tudo. A cabeça começara a doer-me como nunca. Desistira de falar e limitara-me a ouvir.
Quinze minutos volvidos e encontrava-me em estado de catarse. Deixara de sentir os membros, e sabia o colapso inevitável. Fitei o velhinho uma última vez. Sorria.
Desmaiei.
Acordei horas mais tarde, despenteado e gelado, deitado no porto de Leixões. A carteira e o telemóvel continuavam-me nos bolsos, mas estava descalço. O velhinho roubara-me as sapatilhas.
Raios! Raios pós velhinhos e a sua fixação por sapatilhas…”.

(A minha verdadeira experiência pode vagamente variar da aqui escrita.)

sábado, 22 de setembro de 2007

História de Portugal - Director’s cut

Sonho estranho o que tive a noite passada.
Sonhei que viajava no tempo, “aterrando” em momentos decisivos da história de Portugal, e sempre encarnando figuras de grande vulto e importância.
Comecei por acordar em pleno século XII. Estávamos em meados de 1128, e a Batalha de São Mamede adivinhava-se. Encarnara no corpo de D. Afonso Henriques e encontrava-me frente a frente com minha mãe e inimiga, D. Teresa.
Mãe, ordeno que saias de território Portucalense, e que contigo arrastes as infames hostes de castelhanos que te acompanham! Se não o fizeres, juro por Deus que farei abater sobre ti a mais pesada das vinganças.”, disse sempre a fitando.
E eu como tua mãe, ordeno que tu e teus homens pouseis vossas armas, e capituleis perante mim!”, retorquiu D. Teresa. A sua voz atingiu-me como uma lança, e seu olhar fulminou-me; não resisti. “Sim sim mãezinha, assim o farei. Desculpa-me por favor a arrogância... Já agora, arranjas-me por favor 2 moeditas para ir até à taberna com uns amigos?”
Meu Deus, quão fraco fora. Acabara de entregar Portugal a Castela…
Com a vergonha colapsei, e em nova era voltei a acordar.
Encontrava-me agora no final do século XV. Era Vasco da Gama e preparava-me para partir na épica viagem em descoberta das Índias. Antes de embarcar perguntei a meu irmão Paulo onde estavam as pastilhas para o enjoo. “O que é isso?”, perguntou-me ele espantado. “Não me digas que não temos! Assim não parto. Sabes que todo o reboliço marítimo me dá a volta à tripa…” retorqui irritado. Virei costas ao porto e dirigi-me para a taberna mais próxima, procurando companhia para uma muito apetecida partida de dominó.
De novo colapsei envergonhado. De novo envergonhara a nação lusitana…
Episódios semelhantes repetiram-se toda a noite. Fui D. Pedro IV e permaneci no Brasil, devoto a longos banhos de sol e caipirinhas, entregando Portugal a meu absolutista irmão; fui Almeida Garrett, mas abandonei a escrita pois não me agradava escrever à luz das velas (sempre tive uma vista fraquinha!); fui Salazar e não caí da cadeira; fui Eládio Climaco e rejeitei apresentar os “Jogos sem fronteiras”…
Enfim, vergonhoso…

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Where the wild roses grow

As pálpebras fechadas e ainda assim o Sol me iluminava a alma. Ah, como é bom acordar com o terno abraço do Sol…
Estupefacto.
Estupefacto acordei num jardim. Lembrava-me de adormecer no aconchego do quarto, e no entanto acordara num jardim. Era o mais belo que já vira.
Acordara sobre uma cama de rosas, e nunca me sentira tão confortável. Margaridas, lilases, lavanda, e outras tantas flores me rodeavam também, e que rico aroma me ofereciam pela manhã.
Os meus vilipendiadores vizinhos, trocara-os por coelhos, esquilos e abelhas. Quão bela vizinhança tinha agora… Amigáveis e curiosos rodeavam-me, nada me exigindo senão a pacifica coexistência. Atrás das rochas a água brotava incessantemente, criando um imenso lago onde centenas de peixes de todas as cores e feitios me davam as boas vindas.
Tudo tão perfeito. A calma, a cor, a paz, a Natureza…Desejava não mais dali sair.
Rendido à magnificência da paisagem, sentei-me, abri o meu saco e tirei o meu portátil. “Que local perfeito. Perfeito para sacar umas músicas e jogar Counter Strike. Graças a Deus a net wireless!”
Simplesmente perfeito…

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Dona Isaura

Não conseguia dormir. Há dias que passava noites a fio a pensar; a pensar numa mulher que me destroçara, me desarmara. Decidi procurar auxilio; procurar um ombro amigo que me ouvisse e aconselhasse.
Mulheres são como flores meu caro. Tens de lhes dar calor, carinho e atenção se as queres ver florescer.”, disse-me carinhosamente Dona Isaura, a minha confidente. “Tens que te mostrar carente e sensível, mas forte e decidido. Nunca sejas arrogante ou a pressiones, e nunca, nunca mesmo lhe levantes a voz.”.
Desde catraio que recorro à Dona Isaura quando me encontro siderado e confuso. Ela parece compreender-me, e a sua voz é como um bálsamo para a minha alma. Uma verdadeira amiga, a Dona Isaura.
Ouve Manel, basicamente tens que lhe mostrar que naquele momento só ela importa. Que ela é tudo para ti. Que ela é a tua Mais Que Tudo!”, rematou Dona Isaura em tom de conclusão.
E assim conseguirei o que quero dela?”, perguntei timidamente.
Sim, assim ela marca-te uma consulta com a Dra. Cândida sem que tenhas que esperar 3 meses. Ela põe-te logo no topo da lista de espera. E se não conseguires com falinhas mansas, dá-lhe discretamente 10€ que ela faz-te isso. Acredita, essa recepcionista Júlia é uma vigarista…Aliás, nesse centro de saúde são todas umas vigaristas.
Já mais confiante, despedi-me de Dona Isaura, sempre respeitosamente curvado e sem nunca a fitar. Lancei-lhe um tímido “Adeus e obrigado.”, e com eles os 30€ que lhe devia pelos conselhos.
Uma verdadeira amiga, a Dona Isaura.

domingo, 9 de setembro de 2007

Psicologia

Desde cedo comecei a interessar-me pela psicologia. Desejava conhecer as entranhas à mente humana, saber o que vai na cabeça dos outros, principalmente daqueles que usam o colete retro-reflector no assento do automóvel.
Ao ver aproximarem-se os derradeiros dias da minha turbulenta passagem pelo ensino secundário, decidi experimentar um pouco de todas as muitas profissões por onde ainda considerava ingressar. Experimentei ser pianista, mas disseram-me ter os dedos muito gordos. Experimentei ser taxidermista, mas todos aqueles coelhinhos mortos faziam-me lembrar coelhinhos mortos, e só Deus sabe quão triste fico na presença de tal cenário. Experimentei ser chef de cozinha, mas tudo que saía do meu forno ia muito em contra com as leis da Natureza e de Deus…
Depois de dezoito profissões tentadas, depois de dezoito calamitosos falhanços, depois de inúmeros pratos/mutantes encarcerados no meu armário, cheguei finalmente à vez da psicologia. Através de um simples inquérito que idealizara, parti numa alucinante demanda pelo conhecimento da mente humana.
A capacidade de voar, ou o poder de ler a mente humana. Se pudesses ter um destes dois super-poderes, qual escolherias?”, foi a questão que apresentei ás quarenta voluntárias “cobaias” que à pressa reuni. Com tal projecto pretendia ficar a conhecer melhor o Homem, seus sonhos e ambições.
Os resultados foram surpreendentes e arrasadores: um dos inquiridos respondeu “O que é voar?”, outro “A sério Guilherme, nunca mais me convides para “almoçar” contigo!”, outro questionou preocupadamente “É normal eu ficar com uma dor de cabeça depois de ler a pergunta?”, e os restantes 37 escreveram “Vai pó …!
Apesar de a amar, parece que o meu futuro também não vai passar pela psicologia...

domingo, 2 de setembro de 2007

Geminus

Ficam desde já avisados os mais cépticos leitores, que o seguinte relato é totalmente verídico. Paladino da Verdade, nunca me permiti adulterar factos da minha vida para gáudio e prazer do leitor. De tão verídicas, as minhas seguintes palavras são decerto merecedoras de serem para sempre guardadas nos vossos corações, no compartimento dos “Textos credíveis, e episódios marcantes do MacGyver”.

Tudo se passou num fim de tarde de Outubro. Era ainda um pequeno, indefeso e imaturo gaiato que havia começado a estudar a tabuada na escola e tinha ainda bastantes dificuldades. Nesse dia tinha chegado cedo a casa, vindo da entediante inspecção militar no dia da defesa nacional, e aproveitara o tempo livre para na clausura do meu quarto praticar a fascinante nova matéria. Envolto em números, um novo Euclides nascera naquele silencioso quarto. Só a minha caneta se ouvia, enquanto sangrava sobre o papel toda a misteriosa beleza da matemática.
Como se de uma facada no peito se tratasse, o telemóvel toca. Vicissitude dos tempos modernos, as chamadas grátis de novo me importunavam. Era o meu irmão gémeo.
Guilherme, tas bem? Estou a sentir uma dor no peito e pensei que talvez te tivesses magoado.”, perguntou preocupado. “Sim, estou bem, mas estava bem melhor antes de me ligares.” respondi notoriamente irritado. Foi então que senti um ardor no peito e desviei a minha atenção para o local. Estava encharcado em sangue.
Ah Diogo, afinal estou bastante ferido. Tenho um lápis cravado no peito uns bons 5 centímetros, e pelo aspecto ressequido do sangue já estou assim há um bom par de horas...Olha, provavelmente vou falecer, por isso logo à noite dá tu de comer ao peixe. Abraço…”

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Sonho de uma tarde de verão

Fora uma tarde quente, e eu e Ela gozávamos numa esplanada os últimos raios do Sol que já mordia o poente. Ela é linda. Naquela tarde não tive olhos para mais nada, tirando a rapariga da mesa do lado, a empregada muito decotada, e um estranho objecto voador que deslindei no céu.
Que é aquilo no céu? É um pássaro? Será Dédalo? Será o Super-Homem?” questionei-me maravilhado. O estranho objecto pareceu aperceber-se do meu fascínio e começou a acercar-se de mim. Continuei: “Tendo em conta a velocidade a que se move e a envergadura dos seus apêndices laterais, decerto será um urubu ou um grifo.” (sim, eu exprimo-me sempre de maneira bastante ridícula).
Ah não, é apenas um avião. Quem diria, um avião…”.
Sei que aquando da idealização deste blog, prometi nunca referir ou fazer piadas sobre o holocausto, o apartheid, aviões azuis e o Boavista Futebol Clube (apesar de neste ultimo caso ser muito, muito fácil), mas terei de quebrar essa regra só por esta vez. Era um fantástico avião azul, célere como um trovão e ágil como uma lebre. Observei as suas acrobacias durante largos minutos, hipnotizado e boquiaberto como um miúdo na sua primeira ida ao circo.
Meia hora mais tarde o espectáculo terminara e ainda ali me encontrava, babado e com um novo sonho: “quando for grande quero ser o gajo que lava estes aviões depois dos espectáculos!”.
Ganhara um novo sonho, mas perdera-A. Ela, aborrecida com a minha total entrega ao ás dos ares, partira enamorada nos braços da empregada decotada.
“Raios...Ao menos tenho um sonho!”…

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Death from above

Lá está ele, todo aperaltado e perfumado. Odeio o sacana!”, pensei.
Sentado o observava e detestava. Detesto-o; a ele e a tudo que representa. Abomino-o desde miúdo, mas com o tempo o meu ódio parece tornar-se cada vez mais fundamentado.
Raramente me exalto, mas a sua presença revela o meu lado mais negro. Irrequieto, procuro disfarçadamente uma faca ou qualquer outro objecto cortante. Nada. Sem duvida que Deus gosta mais dele do que de mim.
Que cara de carneiro mal morto. Espero que morras, bastardo.”, murmurei.
O sacana fitava-me também, e o ódio incendiava-lhe o olhar igualmente. O jogo de olhares tornara-se numa batalha fervorosa. Agora era matar ou ser morto.
Já de mangas arregaçadas, a face escarlate e empunhando um aguçado lápis, levantei-me de rompante, determinado a desferir-lhe um ataque fatal.
Ao levantar-me, uma forte tontura acordou-me para a realidade. “Raios! Tenho que tirar este espelho do quarto. Isto está a tornar-se doentio…

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Frenético

Exaustivamente entediante. Assim fora o meu dia, e de rastos me encontrava.
Queria dormir, mas não via como. De novo a locomotiva dos sonhos partira e me deixara para trás…
Não tinha dinheiro, logo não podia adormecer como de costume, abraçado ao álcool e coberto por barbitúricos. Ia ter que ser à maneira antiga: deitado numa cama, de olhos fechados e sem espumar pela boca.
O leito estava gelado, e a noite adivinhava-se tormentosa. Tudo me importunava: a mais ténue luz cegava-me, e todos os barulhos me ensurdeciam. Até a minha respiração me incomodava. Juro que estive para parar de respirar, não trouxesse tal acto chatas consequências…
No escuro reparei no canto de umas rolas que se haviam acercado do meu prédio. Quão suspeito me soava tal som...
Foi então que pela primeira vez me congratulei por ser um inveterado cinéfilo. Lembrei-me que nos filmes mais realistas (Força Delta 1 e 2, Senhor dos Anéis, Robocop, entre outros…), todos os vilões, quando escondidos nas sombras, reproduziam na perfeição o canto de rolas, de maneira a indicar aos seus companheiros que chegara o momento de "atacar”.
Tal lembrança fizera-me despertar gelado. “Alguém me vai atacar. Vou ser brutalmente assassinado por bandidos de pala no olho, pernas de pau, e sotaque germânico.” (sim, a minha definição de “assassino” é um pouco romântica). “Têm decerto como objectivo roubar as minhas valiosas bandas desenhadas. Os sacanas…”
Frenético e já com uma faca na mão, pensei: “É desta…vou morrer!”.
Foi então que nova ideia me trespassou: “Ou isso, ou são só rolas…Bem, vou dormir.”

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Reunions

O Tempo é sacana. Torna-nos frios e cinzentos, revelou o MacGyver obsoleto e ridículo, e leva-nos a desejar relembrar pessoas e momentos do passado. Assim, Deus criou as “reuniões de velhos colegas e amigos”.
Há dias encontrava-me em frente ao meu guarda-roupa, procurando o que melhor vestir num destes reencontros. Apesar de informal, a ocasião exigia uma certa elegância e bom gosto. No fundo, o verdadeiro propósito destas reuniões é ver como os outros vão afinal, e ninguém se quer revelar como o low-life sem namorada nem emprego, coleccionador de action figures do Dragon Ball, e ainda adepto de anedotas envolvendo as palavras “xixi”,“cocó” e “otorrinolaringologia”. Por fim, entre sedas, veludos e muitas lantejoulas, deslindei a indumentária perfeita.
Com 20 minutos de atraso (não me quis mostrar desesperado!), entrei no restaurante combinado. Estavam todos iguais! O Fábio continuava a preferir a meia branca ás restantes, a Sónia continuava a mais bela, e a Susana continuava sozinha no fundo da sala…
O chapéu de cowboy e as botas com esporas revelaram-se bastante desconfortáveis, logo cedo abanquei junto ao bar. Nisto vi o Marco, antigo playboy e atleta de eleição da turma, agora preso a uma cadeira de rodas e com um farfalhudo bigode.
Então Marco, como é que isso aconteceu?”, perguntei espantado. O tempo fora nefasto sobre ele.
Pah, cai do cavalo a jogar pólo.”, respondeu.
Não meu, referia-me ao bigode. Como é que isso aconteceu pah? Já não estamos nos anos 80, sabias? Diz-me, alguma vez viste o Saddam acompanhado por uma bela mulher? Ah pois! Acho que não preciso dizer mais nada…”

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

O outro

- Acredita, nunca mais vou com ele a lado algum. Não é que eu goste de ser o centro das atenções, mas quando estou com ele parece que me torno invisível…Ninguém dá por mim.
- Também não é preciso reagires dessa maneira. Sabes que ele sempre foi assim. Algo excêntrico, colorido, cheio de vida…Dá-lhe um desconto.
- Mas a sério, irrita-me. O pessoal adora-o! Devias ver a quantidade de números de raparigas que ele saca quando vamos sair. E as crianças? Sempre que o vêem fazem uma festa e não o largam…
- Mas Guilherme, ele não o faz por mal. Nasceu assim. Acho um pouco injusto e estúpido uma amizade como a vossa terminar só porque toda a gente o adora.
- Mas não percebes que enquanto eu não me vir livre dele vou ser sempre “o outro”! Se estiver com ele, posso gritar “tenho fantasias sexuais com a minha avó!” em plena baixa que ninguém olha para mim. Acredita, nunca mais ando com o Poupas na rua. Acabou…

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Amor, Parte2: Desenganos

A lua ia alto, e o calor convidava a um mergulho. Ali, sozinho junto ao mar, mergulhei num Martini…
Saída da bruma, mui galharda donzela de mim se acercou. O negro profundo do seu olhar deixava adivinhar uma qualquer exótica naturalidade, e o vermelho do seu vestido dava-lhe um ar de deusa hindu.
Canela, jasmim, lilás, e outras tantas fragrâncias lhe deslindei no aroma. Sei que corro o risco de plagiador ser intitulado, mas não resisto a afirmar: ela cheirava ao que os anjos decerto cheirarão.
Hipnotizado, com grande deleite acompanhei todos os seus passos na minha direcção. Encarnada, toda ela era fogo; a seu lado, todas as outras eram meras estátuas do mais gélido mármore.
Agrilhoado pela sua desarmante beleza, imobilizado a esperei, e enfim os seus imaculados lábios se descerraram: “Tens lume?”
Ela falou-me…
Não tenho, desculpa. Sabes, não devias fumar. Fumar mata. A probabilidade de um fumador contrair cancro pulmonar é dez vezes superior à de um não-fumador. Sabias também que a pobreza e o tabagismo estão estritamente ligados? Em vez de desperdiçado em tabaco, todo esse dinheiro podia ser investido em bens essenciais, bens de produção…Também o analfabetismo e iliteracia estão estritamente…”
Estupefacta e algo temerosa, virou-me as costas.
O quê que eu fiz?!?”…

domingo, 5 de agosto de 2007

O Medo

Palhaços, fundamentalistas, ciganos, soldados nazis, ou palhaços fundamentalistas de raça cigana que são soldados nazis nos tempos livres; nenhum destes me causa mais temor que seres extraterrestres.
Desde os tempos de gaiato que temo seres alienígenas, as suas gigantescas naves, e as suas garridas e cintilantes vestes que parecem saídas de um qualquer show no Moulin Rouge.
Sempre temi de noite ser raptado do meu quente leito, e ser transportado para uma gelada nave onde não teria piões ou berlindes para brincar, tendo de me contentar com entediantes aparelhos de teletransporte, e canhões de raios Gamma.
Mas o que sempre me causou mais temor foram os inevitáveis exames a que seria sujeito. Aquando da introdução da perfurante sonda na minha coluna vertical, os esguios e gélidos dedos daqueles sacaninhas decerto me deixariam arrepiado, e só Deus sabe como detesto ficar arrepiado.
É que abomino mesmo...

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Dias do fim

Agora que importunei a Igreja Católica, sinto o meu derradeiro dia cada vez mais próximo. Sei o perigo eminente.
De noite adormeço com o revólver debaixo da almofada, e na rua uso sempre duas t-shirts, não vá alguém disparar contra mim.
Os e-mails hostis acumulam-se, e muitas vezes já nem os leio. É cansativo, desencorajador e temeroso! Mais do que nunca, como te percebo agora Paulo Portas.
Sentindo aproximar-se o toque frio da morte, decidi “organizar a minha vida” (expressão que na gíria dos moribundos significa “reatar relações destruídas pelo tempo, pedir desculpa a quem o merece, e agredir violentamente todos aqueles que nos importunaram toda a vida”), e realizar o meu grande desejo de infância: fazer uma viagem ao meu destino de sonho.
Escritas as minhas memórias e preparada a bagagem, despedir-me-ei dos meus, da minha casa e da minha terra, e partirei na minha derradeira viagem, decidido a não voltar.
Algés, aqui vou eu!

segunda-feira, 30 de julho de 2007

No café

Num café à beira mar plantado, acompanhava um amigo que me acompanhava o Martini. Não havia assunto de conversa, mas nem por isso deixamos de conversar. Devaneamos.
Devaneamos e fizemos comentários acerca daquelas que por nós passavam.
“Belo cabelo o daquela! Com tons de ouro e avelã. Uma fada.”, disse.
“Aqui o papá dizia-lhe.” – acompanhou o meu amigo - “Primeiro untava-a, depois…”.
O seu comentário continuou, e apesar de em tom bem mais brejeiro que o meu, não menos sincero era. Ele untá-la-ia mesmo.
E assim, com os olhos acompanhávamos a travessia no areal daquelas que por nós passavam, até que as perdia por detrás das longas barbas do meu amigo sentado a meu lado.
“Jesus, já cortavas essa barba! A sério, não vejo nada.”

domingo, 29 de julho de 2007

Um dia no Paraiso

10 horas da manhã e eu ás portas do Paraíso. Cansado, caminho lentamente na direcção de S. Pedro, que sentado atrás da sua secretária lê o 24 horas. Gordo e velho, nem dá pela minha chegada.
O meu dinheiro Pedro?”, perguntei. O pobre sacana pedira-me 30 contos para a entrada de um apartamento aquando do seu 2º divórcio, e “esquecido” ainda não mos devolvera. “Ahh, olá Manel! Desculpa-me…a sério desculpa-me, mas ainda não o tenho! Sabes como é: a escola dos miúdos tá cara, mais os remédios pa asma do meu mais velho…”. O pobre coitado nem mentir sabia. Gasta tudo que lhe cai no bolso em tascos e em casas de má fama, e todos o sabem.
Envergonhado e cada vez mais encarnado, deixou-me entrar sem fazer perguntas. “Não me vais obrigar a castigar-te pois não? Tens um mês.” disse, despedindo-me.
Já no Paraíso, avisto o imponente Deus sentado num banco de jardim, de frente para um belíssimo lago repleto de todas as aves e peixes que o Homem conhece e conhecerá. Ao seu lado repousa um rádio, irradiando uma estridente e irritante música.
Espera, tas a ouvir Tony Carreira?!?”, perguntei estupefacto. “Porque não? – retorquiu – o gajo tem boas baladas, com uma sonoridade calma mas moderna, recheadas de uma subtil mensagem amorosa. Simplesmente excelente!”.
O teu filho sabe disto? Que diz ele de tudo isto?” rematei. “Tou-me a borrifar para esse hippie insolente mais a sua opinião…Mas diz-me lá, que fazes aqui hoje?”.
Irado respondi, “Não acredito que te esqueceste! Tinhamos combinado jogar badminton hoje ás 10:30! Fogo Deus, és sempre a mesma coisa...

sábado, 28 de julho de 2007

Má sorte

Sou provavelmente a pessoa mais azarada do Mundo.
Apercebi-me disso muito cedo, e continuo a sabê-lo. Por isso não vou a casinos, e não faço acrobacias em cima da asa de um avião em pleno voo e em chamas…pode correr mal.
Colecciono inúmeras azaradas façanhas, como cair de um monte abaixo, ter deslocado o braço umas cinco vezes no mesmo dia, e ter dois pés esquerdos…Mas é no Amor que tenho menos sorte. Em blind dates os meus pares são sempre caçadores de ursos sem uma perna, e no dia-a-dia estou proibido de me aproximar de mulheres em prédios altos, pois é habitual elas atirarem-se das janelas.
Já tentei de tudo para afastar esta má sorte: ando com uma pata de coelho ao pescoço, tenho sempre dentes de alho no bolso esquerdo (o que pensando bem, se calhar explica o meu azar no Amor), e carrego no bolso direito um porta-chaves da campanha de Mário Soares ás presidenciais de 1986, onde se lê “Soares é fixe!”.
Mas nada parece resultar…

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Ostracismo

Cliché ou não, o futebol tem grande peso na vida de quase todos os rapazes, principalmente na infância. È portanto fácil adivinhar, quão triste e solitária a minha foi.
Desde cedo me votaram ao ostracismo, quando, na altura de escolher as equipas, me deixavam para ultimo a escolher. E, não satisfeitos com o facto de me terem nomeado “ovelha negra” do grupo, ainda ouvia comentários do género: “O Guilherme fará parceria comigo?!? Fogo meu, prefiro ver as minhas costas despedaçadas por dezenas de vis e atrozes abutres, a ter tão cruel destino!” (sim, os meus amigos são bastante eloquentes.)
Durante anos fui perseguido pela rejeição, muitas vezes sem de todo a compreender. Aliás, nem era dos piores atletas. Claro que não chegava aos calcanhares do Jorge, do Diogo, ou do Fábio, aquele ciganinho cego e sem uma perna; mas também não era o pior…
Até que há dias cheguei à possível resposta para tal rejeição.
Lembrei-me que, aquando do início das partidas, era usual todos nós escolhermos um jogador que “seríamos” durante o jogo. Uns “eram” o Figo, outros o Beckham, outros o Ronaldo…Eu escolhia sempre o Marcelo Rebelo de Sousa.
Se calhar deve-se a isso…

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Odeio-te

Sempre me avisaram para ter cuidado contigo. Sempre me avisaram que acabaria a chorar.
Os anos passaram e não quis acreditar…agora sei-o verdade.
Pensando melhor, não te odeio…
A culpa é minha. Aproximei-me demais; usei-te demais…
Mas não me arrependo de nada. Sempre fui meigo; sempre fui terno contigo. Quando te tocava, quando te despia…
Bem lá no fundo, adorei todos os momentos que passei contigo.
Sempre deste sabor à minha vida. Sempre deste novo aroma à minha existência. Adorava a tua fragrância na minha roupa…
…ou não!
De novo pensando melhor, odeio-te cebola.

domingo, 22 de julho de 2007

Amor, Parte1: Triângulos Amorosos

A noite era quente e convidava a sair, mas o dia tinha sido exaustivo e as pernas pesavam. Concordamos ficar em casa dela, ter um bom jantar e ver um bom filme.
Eu, ela, e um bom filme; o plano adivinhava-se perfeito, nunca eu prevendo o que me esperaria com o passar das horas.
Preparamos o jantar, acompanhando-o com um bom vinho. Passamos horas à mesa, falando, rindo, e usando todo o nosso escárnio contra aqueles de quem não gostamos.
Por fim levantamos a mesa e fomos para a sala. As velas incendiavam o ar, tornando o ambiente mais convidativo, mais romântico. O filme tinha que ser perfeito…
Escolhemos o Robocop.
O serão foi perfeito, durando quase até ao primeiro raiar do sol. Foi então que mais tarde, já no leito, tudo se desmoronou. Ela disse o nome, o nome dele.
Das profundezas do seu sono (sonho?) gritou o nome do “outro”. “Emil…Emil” gritou, e mais três vezes o fez.
Não a acordei, não o quis. Estava magoado, confuso como um animal ferido, mas sobretudo envergonhado. Não era mais uma paixoneta ou traição, era bem pior do que isso. Ela apaixonara-se pelo Emil, aquele gajo mau do Robocop.
A vergonha consumia-me. Ninguém gosta de ser trocado por outro, muito menos por alguém que no final do filme morre todo derretido e atropelado.
Tinha que sair, tinha que a esquecer. Vesti-me, peguei na carteira, e deixei-lhe os 40€ que tínhamos acordado. Adeus…

sábado, 21 de julho de 2007

Playmobil

Há dias percebi porque, numa quente tarde do verão de 96, jurei a mim mesmo nunca mais usar caveadas.
Este verão comprei uma caveada, e assim que o tempo o proporcionou, sai à rua com ela. Após duas horas de entediante estadia ao sol, voltei para casa, apenas para presenciar um espectáculo macabro. Já não era monocromático. Tornara-me algo idêntico a um qualquer gelado, meio de baunilha, meio de morango. Pior, tornara-me num Playmobil…
Sim, assemelhava-me a um Playmobil. Como estes, tinha agora uma definida linha separadora entre os braços e o tronco. E o pior é que se fosse um Playmobil seria defeituoso: tinha os braços escarlates, e o tronco alvo. Decerto acabaria como oferta a uma qualquer obra social, onde um qualquer gaiato trocaria o meu cabelo castanho por um capacete de construtor civil. Fetiches…
Mas no fim, o meu mais recente escaldão não me trouxe apenas dissabores e problemas, revelou-se até bastante útil. Reparei que, visto a linha que separa os meus braços do meu tronco ser tão perfeita, se algum dia tiver um acidente, o cirurgião não terá problemas em saber por onde amputar o meu braço.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Reset

Tarde de verão, e pouco para fazer. Tinha acabado de medir a altura da parede do meu quarto com os polegares (para os mais curiosos, são 124 polegadas) e de novo me entregara ao tédio.
Do nada, como se de intervenção divina se tratasse, deparei-me com a solução. Lembrei-me de ver todas as palavras procuradas no motor de busca da Internet (Google no caso) do computador cá de casa.
Comecei pelo fim do alfabeto e nada de surpresas: “Vicky o Viking”, “MacGyver”, e “girls with see-through underwear” constavam na lista, como adivinhava.
Quando já chegava ao início do alfabeto (a minha meta) e julgava a minha família sã e funcional, deparei-me com algo que não esperava: “espetadas de atum”!
Sim, “espetadas de atum”! Alguém procurara “espetadas de atum” no Google, não sei se com o intuito de obter uma pouco credível receita, ou uma ridícula fotografia.
Somente estúpido...estúpido demais até para os meus parâmetros.
A ideia fulminou-me; precisava de uma lavagem cerebral. Precisava de fazer “reset” a toda e qualquer actividade mental.
Felizmente, e como qualquer Doutor de bom nome mo aconselharia, pude contar com a minha TV, delegando a tarefa à fabulosa programação das tardes da televisão portuguesa.

sábado, 14 de julho de 2007

Obrigado

Obrigado por estares lá sempre que precisei.
Tenho saudades tuas, do teu toque frio, metálico, que sempre me despertou nos momentos mais difíceis.
Guiaste-me. Cintilavas no escuro, mostrando-me o caminho por trevas e incerteza.
Olho para ti, e depois de tanto tempo ainda me revejo. Vejo em ti o meu reflexo. Gostava de ser forte como tu…
O mundo sem ti não o é. É uma anarquia. Eras a minha Lei. A minha Ordem.
Os anos passam e não perco a esperança de te ver de novo.
Volta. Volta por mim, por nós...
Obrigado Robocop.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

168

Horas. As horas passaram e o blog já tem uma semana.
Uma semana e 12 mails depois, julgo ter a vida em risco.
11 dos mails eram manifestações de puro ódio, o outro dizia apenas “Sr. Artur, temos o prazer de o informar que já recebemos os sapatos de golfe que encomendou. SportZone Norteshopping”.
Os 11 mails que não se enganaram na caixa de correio eram muito ricos e diversos, sintáctica e gramaticalmente, pois todos tocavam no mesmo assunto. “Odeio-te Guilherme. Talvez te mate esta noite.”, lia-se num. “Você é execrável. Vou criar uma personagem no Sims com o seu nome, para que depois possa mata-la à fome!”, li noutro.
Queria desde já agradecer a todos aqueles que me escreveram, pois são vocês que me dão força e ânimo para continuar, e que fazem com que todos os dias, antes de sair de casa, me despeça da minha família como se fosse a ultima vez.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Marvellous life

Ou muito me engano ou todos os rapazes, quando catraios, julgam ter super-poderes que mais tarde se virão a manifestar. Imaginamos vir a ser os primeiros verdadeiros super-heróis, que iremos ser famosos, e que teremos ruidosas hostes de fãs por todo o mundo.
Mas cedo abandonei tal ideia. Não encaixava no padrão do típico super-herói: proveniente de uma família pobre; humilde e honesto; o melhor aluno da turma, sempre alvo do gozo e agressões dos restantes colegas…Enfim, um inadaptado.
Ainda tentei preencher tais requisitos. Por razões óbvias abandonada a ideia de ser o melhor aluno da turma, investi na inadaptação exterior. Comecei a vestir-me com estilos e cores berrantes, e a falar de uma forma esquisita e por vezes indecifrável.
Como por obra do destino, ou de um ente superior que não me deseja bem, nessa semana estreou os “Morangos com açúcar”. Num ápice, tal indumentária, estilo e conduta passaram a ser não só normais, como “fixes”.
Abandonei de vez a ideia. “De facto, qual seria o meu super-poder?”, pensei. Ter uma capacidade sobre-humana de trocar os olhos, pareceu-me a mais provável e única resposta possível.
Mas imobilizar e mortificar os inimigos da lei com tal poder adivinhou-se difícil…
Fica para a outra vida.

terça-feira, 10 de julho de 2007

'Non', ou a vã glória de rir

Desde os tempos em que gatinhava que ouço dizer que rir é a cura para todos os males, e até para todas as mazelas (lembro-me, de repente, de certa vez uma vizinha minha, pobre velha, me tentar convencer que uma irmã sua vira o seu braço recentemente amputado, “renascer” como se de magia se tratasse, após duas horas de riso intenso. Isto imediatamente antes de me perguntar se tinha visto o seu caranguejo gigante de estimação, o Armindo).
Ao fim de 19 anos de incessante estudo empírico do assunto, posso afirmar que tal é falso. Nunca rir salvou alguém de uma desgraça ou da nemésica Morte.
E digo-o com fundamento. Muitas vezes, em situações de desesperante angústia e/ou perigo iminente, optei pelo riso como tentativa de “salvação”, e devo dizer que sempre vi os meus objectivos acabarem longe de logrados.
Foi o caso quando, certa vez, fui abordado por dois indivíduos mal intencionados, e em que não só acabei sem o telemóvel, como sem dois dentes e um bom bocado da minha já pouca auto-estima.
Outra vez, em casa de uma namorada, optei pelo uso de um sorriso na hora de dar uma triste noticia à minha cara-metade. “Acho que paralisei a tua avó da cintura para baixo.”, disse. “Acho que lhe dei um pontapé nas costas e ela agora está-se a queixar que não sente as pernas…”. O meu sorriso não só não atenuou a minha "pena", como a agravou. Resultado: tive de mudar de casa e deixar crescer um pouco desejado bigode.
É por isso que com toda a certeza afirmo, qual eminente cientista, que rir não só não é a cura e resolução para todos os males, mas como de facto é a causa e soma de todos os males e pantominices.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Quem és tu, e porque me dói tanto a cabeça?

Há dias acordei com uma terrível dor de cabeça.
Assim que consegui abrir os olhos deparei-me com um vulto junto à minha cama. Segundos depois o processo de focagem estava completo, e consegui vislumbrar um homem dos seus 30 anos, de longas barbas e olhos profundos, que me fitava com ar sério.
Perplexo perguntei “Quem és tu, e porque me dói tanto a cabeça?”.
Calmamente e sem nunca deixar de me fitar, retorquiu: “Sou Ele. Sou o Sol, a Terra, e todo o vácuo. Sou a Justiça, a Lei, o amor e o ódio. Sou a guerra, sou a paz. Sou tudo e sou nada.”
Fiquei estupefacto. O choque pareceu aumentar a minha dor de cabeça. Continuou:
“Ou isso ou sou um cigano chamado Carlos que te acabou de drogar com o intuito de te roubar um rim.”
Desmaiei por fim. Acordei horas mais tarde, 180 gramas mais leve…

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Nota introdutória

As pessoas com quem conversei aquando da idealização deste blog, quando se lhes era apresentado o titulo, retorquiam: "Porquê tangerina?". Bem, a resposta é simples: na altura pareceu-me boa ideia.
Adoro esta resposta. Serve para tudo: "Porque calcaste a cabeça ao Miguel? - Na altura pareceu-me boa ideia!"...É escassa, eu sei, um pouco dúbia talvez, mas acima de tudo é sincera e a mais pura das verdades.
Mas é verdade também que estou farto de blogs com nomes presumivelmente abruptos e cáusticos, logo optei por algo mais simples e modesto: um banal e pouco desejado citrino.
Sim "pouco desejado". Não conheço ninguém que à pergunta "Que te apetece MESMO comer agora?" respondesse "Uma tangerina". Talvez uma laranja, uma maça, uma alheira, mas nunca uma tangerina.
A escolha deste nome deve-se também ao facto de já existir um blog com o titulo "Girls with see-through underwear"...
Quanto ao tema, este não existe. Usarei este blog para dar corpo digital aos meus mais variados devaneios.
Por fim, "der mandarine" significa "a tangerina" em alemão, e foi este o endereço escolhido para este blog pelo facto de "tangerina.blogspot.com" já existir. É pena, mas a lingua dos boches até que não é tão má.