É de manhã e o Sol raia ainda tímido.
Pouco depois de ler no Sol as nove horas (sim, porque como sabem fui criado por uma loba na Serra do Montezinho, e sou mais ou menos um erudito nas coisas da Terra) ouço alguém martelar em minha casa.
“A minha mãe finalmente contratou alguém para esculpir um busto meu. Vai ficar lindamente no hall de entrada.”, julguei. Levantei-me de rompante, e após sacudir a farta cabeleira para trás da orelha mais próxima, saio do quarto e dirijo-me para o frenesim. “Uma contemplação ao vivo desta figura de Adónis facilitará tão árdua tarefa.” pensava agora.
Avanço e deparo-me com uma espessa nuvem de pó com a qual não estava à espera. “Algo porosa a fina mármore por que optou o requintado artesão.” concluí.
Com sabeis, caro leitor, a minha vida foi já cenário de árduos labores, ruins vicissitudes, e alvo das mais vis pantominices, mas nunca como desta vez me senti tão insultado no âmago do meu burguês coração. Qual não é meu espanto quando me deparo com um cenário digno do mais dantesco inferno, ali, ali no meu quarto de banho.
A sanita deitada a um canto, os meus patinhos de borracha amarrotados entre uma mala de ferramentas e a parede, e um homem suado e de farto bigode cantarolando o que julgo ser Tony Carreira, ou talvez Génesis, na sua fase após a saída de Peter Gabriel.
Agora também com suores frios, fraquejei e esforcei-me por imaginar borboletas e lindos unicórnios que me trouxessem de novo as forças que necessitava.
“Vamos lá Manel, tu consegues superar isto. Afinal já passaste por pior: já viste as costas peludas da prima Cláudia…”, meditava agora.
Após breves segundos estava já restabelecido e deparava-me agora com os pequenos olhos castanhos deste homem dos duros labores mirando os meus, profundos e azuis.
“Bom dia. O paizinho não tem aí uma cervejola que o menino me possa dar? Tanta poeira está a deixar-me com a esgana.”, perguntou-me.
“O que te vou dar é uma valente bastonada no meio da face, vil criatura!”, pensei eu.
“Sim senhor, caro senhor. É para já meu amo.”, disse eu.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
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17 comentários:
Manel?
a ideia de sacudir o cabelo para a orelha mais próxima faz-me pensar que és o Quasimodo
tava a ver que não! o meu dia-a-dia é outro com as leituras do tangerina (és a minha Rhonda Byrne!) saúda-se o regresso à escrita amigo!
um pormenor.. notei uma depreciação dos Genesis pos-Gabriel?..
gnd abraço
És um génio. Estou a rir-me e nem sei porquê.
Ok ... génio, génio, não digo, mas ainda assim é bom ver este blog a mexer outra vez =P
Hei Ary, estiveste tão bem da primeira vez...
:)
Tenho de te dar um incentivozinho a postares mais.
não estaria ele prestes a esculpir um busto teu usando a louça da sanita? nos dias de hoje a arte consegue servir-se das matérias-primas mais fascinantes de sempre. xD
Meeeeesmo!
:D
em grande ;)
Judas, porque me traíste?
Jesus, porque não me deste excelente visão nocturna?
achavas mesmo que eu te ia lavar os pés...?
Frases como "sacudir a farta cabeleira para trás da orelha"; "os meus patinhos de borracha amarrotados entre uma mala de ferramentas e a parede"; "imaginar borboletas e lindos unicórnios" são vistas como uma mudança na tua vida, desvendares o teu lado pouco viril que tanto afirmas ter mas contudo possuis uma ampla imaginação.
Isto é melhor que ler dicionários, aqui depreendo com novas palavras e desenvolvo-me como pessoa!
Quando terminas com "O que te vou dar é uma valente bastonada no meio da face, vil criatura!" deparei-me com o teu lado másculo que tardas em mostrar ao mundo! :D
um regresso razoavelzinho. continuo a achar que nao fizeste mais do que a tua obrigaçao
possui me guilherme
venho aqui deixar o meu novo blog
http://o4uarto.blogspot.com/
e dizer que vou copiar alguns textos teus do blog para o meu
mesmo que n deixaxs o melhor que vais levar é um "by guilherme"
É realmente um dos blogs obrigatórios na minha lista
onde está o link do "café odisseia", seu gedelhudo mentiroso?
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