quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Sub-90

09:23.
Esperava pelo autocarro que me levaria para outras bandas e o dia até que nem me corria mal: tomara um bom pequeno-almoço, e no caminho para a paragem não me cruzara com nenhum javali.
Sozinho, deixei-me levar pela preguiça e fechei os olhos por mais um pouco. Foi quando senti alguém acercar-se de mim e ao meu lado sentar-se. Era um velhinho.
Frágil, lento e amável sorriu para mim. Lembrei-me que desde pequeno os meus pais me aconselhavam a não cumprimentar velhinhos, pois eles eram “manhosos, traiçoeiros e velhinhos”, mas num rasgo de simpatia soltei um “bom dia”.
Visivelmente regozijando, o velhinho todo ele sorriu.
Bom dia! Tá frio hoje, não?”, perguntou-me animado. Respondi-lhe afirmativamente, e num rasgo de sabedoria popular acrescentei “E parece que vem aí trovoada. Uma pessoa já não consegue perceber o tempo. Tá tudo trocado, e a culpa é do Bush, aquele bandido…”.
Acabara de assinar a minha sentença e nem sequer me apercebera. Inocentemente desencadeara uma conversa que agora sei não queria ter. Da política à columbofilia, do futebol ás técnicas de captação de aguás subterrâneas, divagamos um pouco sobre tudo. A cabeça começara a doer-me como nunca. Desistira de falar e limitara-me a ouvir.
Quinze minutos volvidos e encontrava-me em estado de catarse. Deixara de sentir os membros, e sabia o colapso inevitável. Fitei o velhinho uma última vez. Sorria.
Desmaiei.
Acordei horas mais tarde, despenteado e gelado, deitado no porto de Leixões. A carteira e o telemóvel continuavam-me nos bolsos, mas estava descalço. O velhinho roubara-me as sapatilhas.
Raios! Raios pós velhinhos e a sua fixação por sapatilhas…”.

(A minha verdadeira experiência pode vagamente variar da aqui escrita.)

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bem capaciade de criar varios cenarios para o leitor, pensava mesmo que a fixaçao dos velhinhos era a pedofilia..vou passar a andar com um par extra de sapatilhas!