terça-feira, 10 de julho de 2007

'Non', ou a vã glória de rir

Desde os tempos em que gatinhava que ouço dizer que rir é a cura para todos os males, e até para todas as mazelas (lembro-me, de repente, de certa vez uma vizinha minha, pobre velha, me tentar convencer que uma irmã sua vira o seu braço recentemente amputado, “renascer” como se de magia se tratasse, após duas horas de riso intenso. Isto imediatamente antes de me perguntar se tinha visto o seu caranguejo gigante de estimação, o Armindo).
Ao fim de 19 anos de incessante estudo empírico do assunto, posso afirmar que tal é falso. Nunca rir salvou alguém de uma desgraça ou da nemésica Morte.
E digo-o com fundamento. Muitas vezes, em situações de desesperante angústia e/ou perigo iminente, optei pelo riso como tentativa de “salvação”, e devo dizer que sempre vi os meus objectivos acabarem longe de logrados.
Foi o caso quando, certa vez, fui abordado por dois indivíduos mal intencionados, e em que não só acabei sem o telemóvel, como sem dois dentes e um bom bocado da minha já pouca auto-estima.
Outra vez, em casa de uma namorada, optei pelo uso de um sorriso na hora de dar uma triste noticia à minha cara-metade. “Acho que paralisei a tua avó da cintura para baixo.”, disse. “Acho que lhe dei um pontapé nas costas e ela agora está-se a queixar que não sente as pernas…”. O meu sorriso não só não atenuou a minha "pena", como a agravou. Resultado: tive de mudar de casa e deixar crescer um pouco desejado bigode.
É por isso que com toda a certeza afirmo, qual eminente cientista, que rir não só não é a cura e resolução para todos os males, mas como de facto é a causa e soma de todos os males e pantominices.

Sem comentários: